Os primeiros registros oferecem apenas um perfil de Arthur. Aparentemente, Arthur teria nascido pelo final do século V. Escassos indícios sugerem alguns outros fatos que em geral vieram a ser aceitos pelos historiadores: a família de Arthur descenderia diretamente de uma linhagem aristocrática de origem celta, intimamente vinculada aos romanos.O primeiro livro a esboçar uma visão grandiosa de Arthur foi Historia Regum Britanniae (História dos Reis da Bretanha), considerado por alguns historiadores como um dos principais manuscritos da Idade Média. Concluída em meados de 1136, a História foi escrita por Geoffrey de Monmouth, clérigo e professor em Oxford. Geoffrey afirmava ter utilizado como fonte “um certo livro muito antigo em idioma britânico”. O relato de Geoffrey é provavelmente o ponto culminante de seiscentos anos de narrativas transmitidas de geração em geração pelos contadores de histórias ingleses, irlandeses, galeses e franceses.
Segundo Geoffrey, Merlin o mais famoso mago de todos os tempos fez os arranjos para que Uther Pendragon encontrasse a duquesa da Cornualha Igraine, ela engravidou, tendo concebido Arthur.
Arthur teria se tornado rei aos 15 anos, brandindo uma espada chamada Caliburn (Excalibur nas versões posteriores), que segundo Marion Zimmer Bradley “seria a espada sagrada da Ilha de Avalon que fora concedida a Arthur sob juramento de defender Avalon e fazer com que reinasse a paz entre os mundos com igualdade de direitos.”
O rei Arthur de posse da espada, não só expulsou os saxões da Bretanha, mas também conquistou grande parte da Europa. Conseguindo, nas palavras de Geoffrey, “devolver à Bretanha sua antiga dignidade” e estabelecer uma grande corte medieval. Mas por fim foi traído por Mordred, que conspirou com os saxões e declarou-se rei durante a ausência de Arthur. Após derrotar Mordred em diversas batalhas, Arthur foi mortalmente ferido e seus leais cavaleiros carregaram-no até a ilha de Avalon, onde foram recebidos pela fada Morgana. “Ela deitou o rei sobre um leito dourado em seus aposentos, descobriu o ferimento com suas nobres mãos e examinou-o longamente. Finalmente ela disse que só poderia curá-lo se ele permanecesse ali por um longo período e aceitasse seu tratamento”. Naturalmente, Arthur aceitou suas condições.
Assim, Geoffrey convalidou a crença tradicional segundo a qual Arthur não teria morrido em conseqüência dos ferimentos em batalha, mas continuaria vivendo na sagrada e misteriosa ilha de Avalon. Dali, segundo dizem, retornará um dia para ajudar o povo celta a reconquistar a soberania sobre sua terra.
Embora a tradição assegure que Arthur ainda vive, adormecido na ilha de Avalon (em Glastonbury onde antigamente era rodeada por pântanos e possivelmente existira a ilha), outra história descreve como ele pereceu devido aos ferimentos na batalha de Camlan, tendo sido sepultado em local desconhecido.
Em um antigo poema galês, A Canção dos Túmulos, afirma-se que Arthur é o único guerreiro célebre cujo local de sepultamento não é conhecido. “Trata-se de um mistério para o mundo, o túmulo de Arthur”, escreveu o poeta; e esse mistério permanece até hoje.
Acreditou-se que houvesse sido descoberto no final do século XII, quando o rei Henrique II relatou que, segundo lhe dissera um bardo galês itinerante, Arthur estava enterrado no cemitério da abadia de Glastonbury, mas não foram feitas tentativas para localizar o túmulo, até um incêndio destruir grande parte da abadia, inclusive a velha igreja de taipa, em 1184.
Durante a reconstrução da abadia, o abade ordenou uma busca para encontrar o túmulo de Arthur. Ao serem feitas as escavações descobriu-se, a uma profundidade de 2 metros, uma lápide de pedra e, embaixo dela, uma cruz de chumbo que exibia a inscrição:
Hic iacet sepultus inclitus rex arturius in insula avalonia (“Aqui jaz enterrado o célebre rei Arthur na ilha de Avalon”). Cerca de meio metro abaixo encontrou-se um esquife, construído com uma tora oca. Dentro dele havia ossos de um homem alto, cujo crânio fora grotescamente fraturado, levando os pesquisadores a concluírem que ele fora assassinado com um golpe na cabeça. Havia também ossos menores e uma madeixa de cabelos dourados, que teriam se desintegrado ao toque. Os monges concluíram que esses outros restos mortais deveriam pertencer a Guinevere.
Os ossos foram depositados em dois sepulcros cuidadosamente esculpidos e permaneceram ali entesourados na abadia por quase um século. Em 1278, na presença do rei Eduardo I, foram novamente desenterrados. “Lorde Eduardo (...) com sua consorte, Lady Eleanor, vieram a Glastonbury (...) para celebrar a Páscoa”, escreveu um certo Adam de Domerham, que assistiu o evento.
“Na terça-feira seguinte (...) ao entardecer, o senhor rei ordenou que abrissem o túmulo do rei Arthur. Dentro dele havia dois ataúdes pintados com suas figuras e brasões; foram encontrados separadamente os ossos do rei, os quais eram enormes, e os da rainha Guinevere, que conservam maravilhosa beleza”.
“No dia seguinte o rei recolocou os ossos do rei e da rainha, cada qual em seu esquife, após ordenar que os envolvessem em sedas preciosas. Quando foram selados os ataúdes, ordenou que fossem colocados diante de um majestoso altar, para que o povo os venerasse”.
Os ossos lá permaneceram até o ano de 1539, quando agentes do rei Henrique VIII invadiram a abadia, assassinaram o abade, saquearam os tesouros e abandonaram a igreja em ruínas. Um dos objetos que se perdeu durante o assalto foi a cruz que servira um dia de marca para a sepultura de Arthur. Os restos mortais de Arthur e Guinevere foram levados para outros lugares até, finalmente, desapareceram.
Alguns historiadores acreditam que a descoberta do túmulo de Arthur em Glastonbury pode ter sido um embuste, instigado pelos monges que desejavam obter fundos para reconstruir seu monastério - esquema indiretamente apoiado por Henrique II.
Para esses céticos, o verdadeiro objetivo do rei Henrique seria enfraquecer a resistência galesa ao governador britânico, provando que o rei Arthur estava morto e que, portanto, seria incapaz de retornar para defender a causa celta.
Contudo, as escavações conduzidas na abadia de Glastonbury, em 1962, pelo arqueólogo britânico Ralegh Radford demostraram que, no século XII, os monges haviam realmente escavado o solo da abadia, em um ponto entre duas antigas pirâmides ou cruzes, tendo ali descoberto um túmulo muito profundo.
Radford conscienciosamente anotou que as escavações não haviam revelado a quem pertenceria aquele túmulo.
Uma das mais famosas escavações feitas na abadia de Glastonbury ocorreu no início do século XX, pouco após a igreja da Inglaterra ter adquirido as desoladas ruínas da abadia no ano de 1907.
A essa altura o edifício, que antes fora magnífico, estava arruinado, sem qualquer possibilidade de restauração: a maioria das pedras daquela estrutura decadente havia sido vendida, destinando-se à construção de prédios na região.
Ninguém era capaz de determinar o local no qual os monges haviam habitado, e então, para compreender melhor a história da abadia, a igreja decidiu escavar o sítio.
O homem escolhido para dirigir esse projeto foi Frederick Bligh Bond, arquiteto excêntrico e temperamental, perito em arquitetura gótica e especialista no estudo das igrejas antigas. Embora contasse com poucos registros históricos para guiá-lo, Bond foi surpreendentemente feliz desde o início, trazendo à luz os alicerces de cinco capelas; o dormitório, a cozinha e o refeitório dos monges; um forno utilizado para fabricação de vidro e cerâmica; e diversos outros aposentos e estruturas que, até então, nunca haviam sido descobertos.
A precisão de Bond para determinar os lugares que deviam ser escavados era fenomenal.
Uma de suas principais tarefas era encontrar a desaparecida capela de Edgard, erigida pouco antes de a abadia ter sido destruída pelos vândalos de Henrique VIII. Bond insistiu para que procurassem a capela na extremidade leste da abadia, um sítio que os outros peritos consideravam pouco indicado para um santuário tão importante.
Ele até previu o comprimento de 180 metros.
Os escavadores encontraram a capela exatamente onde ele dissera que estaria – com o preciso comprimento de 180 metros.
Durante quase uma década, Bond atribuiu publicamente seus sucessos na abadia de Glastonbury a seu instinto e sorte. Então, em 1918, publicou um livro intitulado O Portal da Lembrança, no qual revelava o que afirmava ser a verdadeira história por trás de suas escavações. Declarou que seu sucesso fora possível graças à comunicação com espíritos de mais de vinte antigos moradores de Glastonbury, há muito falecidos. Entre eles figuravam monges, cavaleiros, um fabricante de relógios, um mestre pedreiro e um vaqueiro.
Para estabelecer a comunicação com os mortos, Bond contara com a ajuda de um amigo espírita, John Alleyne Bartlett, que era médium e capaz de receber mensagens escritas dos espíritos através de uma prática conhecida como psicografia. Ele afirmava que sua mão deslizava pela página sem qualquer esforço mental, pois o lápis era conduzido por outra inteligência que não a sua. Bond fazia as perguntas e Bartlett escrevia respostas muitas vezes enigmáticas, reunindo páginas e páginas de comentários, esquemas e casos contados pela Companhia de Avalon, como supostamente se chamava aquele grupo de espíritos.
Bond afirmava ter sido Gulielmus Monachus, ou William, o Monge, um dos mais antigos clérigos da abadia, que o levara primeiramente ao sítio da capela de Edgard. William teria revelado também o conteúdo de um túmulo misterioso no lado sul da nave da abadia, no qual foi descoberto um esqueleto com o crânio de outro homem depositado entre os joelhos. Segundo William, os restos mortais pertenciam a Radulphus Cancellarius, ou Radulphus, o Tesoureiro. “Antes de morrer, ele pedira àqueles que o amavam para enterrà-lo do lado de fora da igreja, pois queria alimentar os pássaros”, disse o espírito de William a Bond.
“O sol realmente brilhou ali, como ele gostava, pois seu sangue estava frio”. Embora os familiares de Radulphus não soubessem, acrescentou William, o esqueleto de um homem a quem Radulphus matara há muitos anos havia sido enterrado exatamente no mesmo local. Assim, os ossos de dois inimigos mortais terminaram repousando em um só túmulo.
Nem todas as histórias relatadas pelos espíritos da abadia eram assim tão macabras. Além de fornecerem detalhes acerca das construções de Glastonbury, às vezes revelavam segredos íntimos. Poderíamos até citar mais alguns, como o romance de um monge; mas seria por pura curiosidade, e o texto iria se prolongar demais.
Enfim, a publicação do livro de Bond causou bastante furor. As autoridades eclesiásticas (como sempre, não poderia deixar de ser) consideraram-se ultrajadas com a revelação de que o arquiteto teria usado práticas espíritas durante a escavação da abadia e imediatamente nomearam um novo supervisor para o projeto. Em 1921 Bond havia sido rebaixado, sendo incumbido de catalogar e limpar os artefatos de suas descobertas anteriores. Um ano depois, foi demitido e banido dos trabalhos na abadia, arruinando sua carreira. A igreja mandou suspender a escavação e algumas paredes das fundações desenterradas por Bond foram removidas ou cobertas de grama.
Bond viveu mais 23 anos, escrevendo diversos livros sobre a Companhia de Avalon e outros fenômenos paranormais. Morreu em 1945, pobre e desiludido.
Esses e muitos outros mistérios estão ali, enterrados na antiga abadia de Glastonbury; seria como Marion Zimmer Bradley (escritora de As Brumas de Avalon) cita em um dos trechos em que: Morgana fala... “E agora que este mundo está mudado, é preciso contar as coisas antes que os sacerdotes do Cristo Branco espalhem por toda parte os seus santos e lendas.
Pois, como disse, o próprio mundo mudou. Houve tempo em que um viajante se tivesse disposição e conhecesse apenas uns poucos segredos, poderia levar sua barca para fora, penetrar no mar do Verão e chegar não ao Glastonbury dos monges, mas à ilha sagrada de Avalon: isso porque, em tal época, os portões entre os mundos vagavam nas brumas, e estavam abertos, um após o outro, ao capricho e desejo dos viajantes. Esse é o grande segredo, conhecido de todos os homens cultos de nossa época: pelo pensamento criamos o mundo que nos cerca, novo a cada dia.
E agora os padres, acreditando que isso interfere no poder do seu Deus, que criou o mundo de uma vez por todas, para ser imutável, fecharam os portões (que nunca foram portões, exceto na mente dos homens), e os caminhos só levam à ilha dos padres, que eles protegeram com o som dos sinos de suas igrejas, afastando todos os pensamentos de um outro mundo que viva nas trevas. Na verdade, dizem eles, se aquele mundo algum dia existiu, era propriedade de Satã, e a porta do inferno, se não o próprio inferno. Não sei o que o Deus deles pode ter criado ou não. Apesar das historias contadas, nunca soube muito sobre seus padres e jamais usei o negro de uma de suas monjas-escravas. Pois sempre usei as roupas negras da Grande Mãe em seu disfarce de maga, não os desiludi.
A verdade tem muitas faces e assemelha-se à velha estrada que conduz a Avalon: o lugar para onde o caminho nos levará depende da nossa própria vontade e de nossos pensamentos, e, talvez, no fim, chegaremos ou à sagrada ilha da eternidade, ou aos padres, com seus sinos, sua morte, seu Satã e Inferno e danação...Mas talvez eu seja injusta com eles. Até mesmo a Senhora do Lago, que odiava a batina do padre tanto quanto teria odiado a serpente venenosa, e com boas razões, censurou-me certa vez por falar mal do deus deles.”
(Extraido do site www.misteriosantigos.com)